A foto de uma moça parecida com Priscila Belfort, que embora
tenha semelhança, não é Priscila, como atestou sua mãe Jovita e todos os
membros de sua família, me levou hoje a recordar os inúmeros reconhecimentos
que presenciei. Neles, todos, até eu mesma, acreditaram que eram os desaparecidos em buscados. Menos a mãe. Aprendi com as Mães do Brasil que uma mãe reconhece um
filho.
Foram inúmeros os reconhecimentos onde as semelhanças, não
só de aparência, como de idade, entre outros detalhes, eram impressionantes.
Foi assim com uma menina localizada em uma casa de
prostituição em Recife. Ela tinha aparência, idade, nome e sobrenome da menina
desaparecida que buscávamos. A mãe, que nunca tinha andado sozinha de táxi no Rio de Janeiro, entrou pela primeira vez em um avião rumo a Recife, para fazer o reconhecimento. A passagem, inclusive, foi doada pelo jogador Ronaldo Fenômeno. Ao
primeiro olhar, viu que não era sua filha. O bom disso tudo é que nossa ONG,
com o apoio do Conselho Tutelar de Recife, conseguiu reconduzir a menina, que
na época tinha 12 anos, ao lar.
Outro reconhecimento impressionante foi o de uma mãe que
viu no jornal a foto de um matador de várias pessoas preso pela polícia e
correu a me mostrar. A semelhança era impressionante. Partimos para a delegacia e o delegado
que prendeu o criminoso, ao constatar que o rapaz desaparecido tinha o mesmo
defeito na orelha do prisioneiro, foi conosco imediatamente ao presídio. O
encontro entre a mãe e o suposto filho se deu no gabinete do diretor da unidade prisional. O primeiro olhar que lancei ao rapaz me deu a certeza que lá estava o
adolescente desaparecido agora maior e assassino. Mas a mãe o olhou e me disse
cheia de tristeza: “Wal, não é o meu filho!” Ainda assim, num pranto emocionado,
abraçou-se ao rapaz que era realmente idêntico ao filho desaparecido, esquecida
de que ele estava ali por ter matado oito pessoas de uma vez só! Quando se inteirou do
drama, o criminoso também ficou muito comovido, retribuiu o abraço, enxugou as
lágrimas da nossa mãe e garantiu em tom lamentoso não era mesmo seu filho, inclusive
contando que sua mãe também estava presa.
Posso citar mais um, que acabou gerando um problema para a
sofrida mãe. Um rapaz, morador de rua, estava
abrigado e viu a imagem de nossa mãe em uma reportagem na televisão. Fomos nós
cheias de esperança ao seu encontro. Ele acreditava mesmo ser o desaparecido, mas era mulato de olhos verdes e o
desaparecido em questão, negro de olhos pretos. Dias depois recebo um
telefonema do abrigo ameaçando processar a mãe se ela não assumisse o filho.
Exigiram que fizesse um exame de DNA, pois criança muda muito.
Realmente, respondi, mas não a raça e a cor dos olhos.
Outro reconhecimento de uma menina idêntica a outra que buscávamos, trouxe muita suspeita. Ao ver a foto que a denunciante me enviou, fiquei em choque. Acreditei ser a
desaparecida, embora a mãe tenha me garantido não ser a sua filha. Tanta
convicção despertou a desconfiança do delegado, que me disse que, constatado o
envolvimento da mãe no sequestro, iria prendê-la. Viajou para o estado onde
morava a menina para descobriu que a criança em questão era quatro anos mais
nova que nossa desaparecida.
Gostaria de terminar relatando a foto de um bebê que era idêntico
a outro que buscamos. Foi fotografado com uma família na rua. A polícia,
que também sempre acreditou que o menino estava morto, promoveu uma busca de 15
dias pelo bebê fotografado, acreditando que solucionaria o emblemático caso. Na delegacia, toda a
família reconheceu o bebê, menos a mãe, que garantiu a família, aos policiais e
a mim: “A semelhança é impressionante, mas não é meu filho!” E não era mesmo.
Uma mãe reconhece seu filho. Ainda assim, quando asseguram do
fundo do coração essa certeza, são julgadas, criticadas, como está acontecendo
nas redes sociais com a Jovita Belfort. A falta de respeito à dor alheia é mais
um espinho que quem desconfia, critica, acusa ou ofende lança na caminhada da
mãe de um desaparecido.
Outras moças que acreditaram ser Priscila Belfort foram identificadas
e conduzidas as suas famílias. Torcemos que isso aconteça também com essa moça.
Se você a conhece envie um e-mail para maesdobrasil@portalkids.org.br