Se nos
perguntarem qual sentimento vem junto com essa imagem, é quase certo que
responderemos: raiva, medo, ansiedade, revolta, insegurança, desprezo,
impotência, entre outros sentimentos negativos. Estaríamos errados em
sentirmo-nos assim? Não, mas essa certeza é criada a partir da observação ou
vivência de uma parte da realidade. Existe um outro lado desses jovens que escapa
a nossa observação, seja por falta de contato mais direto e profundo com o seu
universo, seja por desinteresse em refletir sobre a questão. Até porque, a
história de vida dele não começa quando nos ameaça ou nos rouba. Ela tem início
antes mesmo dele nascer. Quase sempre não é uma história que nos estimule a
conhecer.
Jovens oriundos
de comunidades de baixa renda, em sua maioria, já são concebidos num ambiente
de muita pobreza e privação de alimentos, saúde, educação, conforto, segurança.
Tais condições serão os primeiros desafios que esses meninos e meninas terão
que superar em sua jornada de vida.
Crescem
convivendo diariamente com a violência, seja ela policial ou impetrada pelo
tráfico. Crescem também convivendo com o abandono e o preconceito. Quando
chegam à idade escolar encontram um sistema educacional público falido, com profissionais
desmotivados, sobrecarregados de trabalho, mal remunerados e sem perspectivas
de crescimento profissional. Sistema esse incapaz de levar o jovem a refletir
sobre sua realidade, seu mundo, seu presente e seu futuro. Com isso o jovem
apenas reproduz as circunstâncias do meio onde vive, contribuindo na manutenção
e repetição de uma história com poucas chances de mudança.
O
objetivo do Projeto Gente do Amanhã, desenvolvido desde 2010 pela ONG Portal
Kids com o apoio da Agência de Cooperação Internacional DKA Áustria, é possibilitar que
jovens de comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro possam encontrar saídas,
tornando-os agentes transformadores de suas próprias vidas. Tal mudança se
apoia na livre escolha, na capacidade de fazer opções a partir de seus desejos,
possibilidades e limites. Para que os jovens em questão consigam atingir tal
nível de maturidade, se faz necessário que os mesmos conheçam outras
realidades, outras formas de perceber o mundo e essa é, justamente, a proposta
de nosso projeto. Como também apresentar uma nova perspectiva de realidade, o
mais livre possível de preconceitos e violência. Discutir com eles o lugar que
ocupam no mundo, saber como se sentem nesse lugar e por fim, refletir com os
mesmos as possibilidades de mudanças. Não mudanças para destinos ou lugares
preconcebidos, mas mudanças para lugares escolhidos por eles, respeitando os
limites, o tempo e as possibilidades de cada um.
Ao longo dos anos atendemos jovens desaparecidos localizados pelo projeto Mães do Brasil, jovens vítimas de violência urbana e intrafamiliar e doméstica, jovens que sofreram abuso sexual, jovens que tentaram suicídio, jovens sem oportunidades e perspectivas. Que apesar de tudo sonham. Esses jovens conquistaram um lugar no mundo. Se tornaram jornalistas, advogados, pedagogos, técnicos nas mais diversas profissões. Se casaram, tiveram filhos, construíram a família sonhada e um lugar na sociedade. Não realizamos sonhos. Mostramos aos jovens o caminho para realizá-lo. Tem dado muito certo!
Em breve iniciaremos um novo semestre do projeto. Convide os jovens que você conhece. As inscrições podem ser feitas pelo formulário e terminam a meia-noite do dia 25 de março.