19 setembro 2010

Suely Porfírio sobre o desaparecimento de sua filha Vanessa: "No Brasil não se respeita crianças pobres!"


Vanessa era uma menina inteligente, extrovertida e responsável. Aos 10 anos me ajudava nas tarefas domésticas e passou a ir ao mercado fazer pequenas compras. Morávamos no morro da Coroa no Rio de Janeiro e ela descia na kombi comunitária que fazia ponto em frente ao mercado. No dia em que desapareceu, ela voltou cedo da escola porque a professora estava doente. Foi ao mercado comprar uma lata de óleo e não voltou. Mandei meu filho mais velho procurá-la e quando ele voltou dizendo que ninguém tinha visto Vanessa, comecei uma busca desesperada. Fui ao supermercado, aos bares e lojas em volta, mas ninguém a viu. O motorista da kombi disse apenas que a viu atravessar a rua em direção ao supermercado. Subi o morro a pé, fui na casa de vizinhos, de amiguinhas de Vanessa, fui ao hospital da área, ao corpo de bombeiros. Rodei o dia todo, sempre voltando em casa, para ver se ela tinha aparecido. Por volta das 22 horas, fui à delegacia. O policial de plantão insinuou que minha filha havia fugido com o namorado. Em prantos, expliquei que ela tinha apenas 10 anos, não tinha nem corpo de moça, que dirá namorado. Ele me mandou ter calma, que daqui a pouco Vanessa apareceria. Amanheci aquela noite na rua, andando de um lado para outro. No dia seguinte, peguei uma foto de Vanessa e junto com alguns vizinhos, fizemos uma manifestação em frente ao supermercado. O jornal O Povo apareceu e fez a primeira matéria. Nem assim a delegacia aceitou registrar a ocorrência. O delegado só sabia dizer que Vanessa havia fugido com o namorado, mas eu sabia que algo muito grave havia acontecido. Fiquei sete dias sem colocar nada na minha boca. Andava, andava, andava, procurando Vanessa desesperadamente. Várias vezes desmaiei de fraqueza. Fiz outra manifestação, desta vez na entrada do túnel Santa Bárbara. Os policiais apareceram e começaram a atirar. Assustadas, as crianças que estavam na manifestação pacífica correram para dentro do túnel. Dois rapazes que chegavam do trabalho e nem estavam na manifestação correram para ajudar e acabaram presos. Desmaiada, fui levada para casa e depois à polícia apareceu para me buscar. Fui detida para o batalhão e lá expliquei que tentava há duas semanas registrar o desaparecimento de minha filha. Consegui registrar, mas nunca fizeram nada pelo caso de Vanessa. Dei uma entrevista no programa Sem Censura, da TVE. Um rapaz telefonou dizendo que minha filha estava na Bahia. Minha vizinha também passou a receber telefonemas de uma criança chorando. O delegado se recusou a rastrear as ligações. Quando a conta chegou, descobrimos que as ligações - a cobrar - estavam vindo de uma cidade do interior da Bahia. O rapaz voltou a telefonar dando a localização de onde estava Vanessa. O Jornal Nacional da Rede Globo foi até a cidade e filmou uma menina muito parecida com minha filha. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro localizou uma testemunha que confirmou que Vanessa estava vivendo numa casa que ficava próxima à casa em que essa testemunha trabalhava como empregada doméstica. Essa denunciante veio depor no Rio de Janeiro e me disse que, quando passava para o trabalho, via Vanessa na porta da casa chorando. Contou, também, que Vanessa fez amizade com uma menina da casa que ela trabalhava, que inclusive a deixava fazer as ligações. A moça contou que Vanessa só chorava e dizia estar com saudades da mãe. Nesse meio tempo, chegou ao meu conhecimento que uma caixa do mercado tinha deixado o emprego, porque viu uma mulher loira forçar uma criança a entrar num carro branco. Essa moça fugiu apavorada com medo de ter que denunciar. Procurei-a por todos os lugares mas não consegui encontrar. A policia prendeu os dois homens acusados de manterem Vanessa em cárcere, mas não encontraram a menina. Depois, essa denunciante voltou atrás no depoimento e eles foram soltos. Aquela velha história de que sem corpos não há crime. A liberdade desses homens me fez desacreditar totalmente na Justiça. Até hoje, guardo a conta com o número dos telefones dados por minha filha da casa desses homens. A Justiça tinha tudo para encontrar minha filha. Só faltava um pouquinho. No Brasil, não se respeita a vida humana, não se respeitam as crianças pobres."

2 comentários:

Anônimo disse...

mãe nunca perca a esperança de encontrar sua filha acredite sempre pois tem um deus que nunca vai abandona-lá boa sorte.

Célia Buarque disse...

Deus é misericordioso e fez um milagre quando trouxe de volta meu filho sequestrado por 4 dias... sei a dor que estás a sentir. Peço-lhe que busque dentro do seu coração uma fé que pode estar pequenininha agora pela dor e o tempo do desaparecimento mas renove sua fé, torne-a plena e peça de joelhos a Jesus todo poderoso que interceda junto a Deus para trazer sua filha de volta. Foi assim que eu fiz e Deus ouviu as minhas preces. Ajoelhe todos os dias e peça a Deus até que sua filha volte para você. Eu creio!