13 março 2011
Bruna Surfistinha
Na noite de sábado fui assistir Bruna Surfistinha. Quando comentei com um amigo que estava querendo ver o filme, ele olhou-me espantado e cobrou: “Você, que luta contra a prostituição infantil, vai ver filme sobre uma garota que largou a família para se prostituir?” Como se eu vivesse por ai julgando as pessoas. Mal sabe ele que atendo a família de uma menina com história muito semelhante. Ela tem pais que a amam e se preocupam com seu bem estar, mas mesmo assim está fora de casa, provavelmente se prostituindo para se sustentar. Quando era ainda adolescente, localizei essa garota que ficou desaparecida por quase um ano e a entreguei de volta para a mãe. Nossos esforços e a dedicação da família não conseguiram mantê-la em casa quando ela completou 18 anos. Eu não a julgo, muito pelo contrário, a amo como se fosse minha filha. Vejo uma luz nela e me sinto triste por estar na ruas sem estudo e sem profissão.
Assisti a história da ex-garota de programa Raquel Pacheco no cinema, muito bem interpretada pela atriz Deborah Secco, com a maior atenção. Eu queria entender porque as surfistinhas estão ai pelas ruas para quem sabe assim poder ajudar a surfistinha que convivo. Aliás, fui assistir ao filme acompanhada de uma de minhas tias, que me revelou conhecer uma ex-garota de programa que também se casou com um cliente e com ele teve duas filhas, construindo uma família muito feliz. Todos os amigos que convidei para irem ao cinema comigo torceram o nariz para a história. Gostei do filme, que nos leva a refletir sobre o vazio da vida de grande parte de nossos jovens, a ausência de ideais e valores. Mas não consegui chegar ao entendimento que eu queria. Sem julgamentos, negociar o corpo de forma tão aviltante (parece que fazem isso como forma de punição psicológica) não pode ser melhor do que enfrentar os conflitos na família. Digo no caso específico da jovem a quem me refiro, que não é abusada e nem maltratada em casa, como a Raquel não o era. Na minha avaliação do filme Bruna foi apenas um personagem da Raquel, que de forma impressionante manteve a personalidade preservada e força suficiente para se reencontrar depois de experimentar as drogas e a prostituição. Mas quantas meninas não tem o entendimento e a força dela e se perdem de si mesmas pelo caminho. Temo que isso aconteça com a jovem que conheço e que me é tão cara. A prostituição é um negócio onde a saúde física e psicológica das meninas não é levada em consideração. Curioso é que o olhar de preconceito e condenação cai apenas nas meninas. Elas têm a sua responsabilidade, mas e aqueles que as exploram? Existe produto sem o comprador?
Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br
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