Em recente reunião de trabalho com a diretora Valéria Magalhães ela me contou a história de uma garotinha que está acompanhando. A menina, que ano passado estudava numa escola com método de ensino diferenciado, onde os talentos individuais das crianças são valorizados e estimulados, entrou este ano para uma escola que segue o ensino tradicional e está tendo muitas dificuldades de adaptação. Aluna brilhante, a criança também se destacava em aulas de teatro, música e dança que fazia na antiga escola. O bom desempenho que vem conseguindo nas matérias em sala de aula tem motivado os ciúmes e as chacotas das novas amiguinhas de turma, que implicam com ela usando o fato de ser gordinha. A menina foi aconselhada pelos parentes a reagir à altura as provocações; mas, por ser muito sensível, ela não consegue revidar. Preocupados, os pais já pensam em transferi-la novamente para a antiga escola.
E por que não fazem isso? – eu quis saber.
“A avó acha que estudar numa escola com método tão diferenciado acabará por superprotegê-la e deixá-la incapacitada ao convívio social” – respondeu-me Valéria.
Até meus nove anos também estudei numa escola experimental. Chamava-se Reino Encantado e ficava na Rua Valparaíso, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. A escola, para minha desventura, fechou as portas e meus pais não conseguiram outra com sistema de ensino semelhante. Passei metade do ano letivo entrando e saindo de escolas tradicionais sem conseguir me adaptar a nenhuma. Acabei cedendo a uma que ficava próxima de minha casa atendendo ao sensato argumento de meu pai que era melhor estudar em uma escola tradicional do que ficar sem estudos. Adiantada demais, pulei uma série, onde as crianças eram todas mais velhas do que eu. As mesmas também sentiam ciúmes de meu desempenho em sala de aula e custei a fazer amigos. Continuei a mesma aluna aplicada, mas em comportamento, me transformei numa verdadeira peste. Minha mãe foi tantas vezes chamada à secretaria para receber reclamações de minhas travessuras que, envergonhada, encarregou meu pai de tentar dar um jeito em minha rebeldia. Entre outras coisas: puxei o véu de uma irmã para ver como era o seu cabelo, fugia da aula de religião pulando o muro da escola e cortei a bainha da saia do uniforme por me recusar a ir com uma saia até os joelhos. Meu pai tentava impedir minha expulsão lembrando a diretora que eu só estava tentando chamar atenção. Quem sabe se fosse ignorada... Sosseguei por fim quando o colégio contratou uma professora de música e teatro, a Maria Alice Sena, que é minha amiga até hoje e foi maestrina do Coral das Mães do Brasil durante o projeto Criança Esperança. Com o fim das aulas de artes no colégio, segui triste e inadaptada até o primeiro ano Normal quando fui reprovada em português por meio ponto, uma vergonha para uma aluna que até então só tirava 10. Realmente, há males que vem para bem. Minha mãe descobriu uma escola pequena, sem tradição de ensino, mas que tinha dependência e uma filosofia semelhante ao Reino Encantado de minha infância. Nesta escola voltei a ser a aluna dedicada que se formou no Normal e no Cientifico com 17 anos. Ambas as escolas tiveram um significado especial em minha formação. Escolas que valorizam individualmente os alunos formam seres humanos que valorizam mais a vida e o semelhante.
Ser diferente é difícil, incomoda, chama atenção, mas por que temos que seguir um padrão de comportamento que nos distancia da felicidade? Não está na hora do sistema educacional começar a valorizar também o aluno individualmente e não apenas se preocupar com a transmissão de conteúdo didático?
Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br
Um comentário:
É EXATAMENTE O QUE DEVE SER FEITO.
MAS ACHO QUE O BRASIL ESTÁ LONGE DESSE TIPO DE EDUCAÇÃO.
ALÔ DILMA!...
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