01 maio 2011

Com medo de sair da toca


Há muito tempo tomei conhecimento de uma experiência nos EUA realizada com psicopatas assassinos e abusadores de crianças. Foram exibidos para eles depoimentos de como ficaram a vida dos familiares de suas vítimas. A experiência ajudou no tratamento e recuperação desses criminosos.

Ah... se os responsáveis pelos sequestros e desaparecimentos de crianças tivessem acesso a dor, ao trauma e ao dia-a-dia das famílias de suas vítimas, será que eles não seriam tocados de alguma maneira?

Não falo da dor que mostramos aqui. Dor pequenina em comparação a que presenciamos e lidamos ao realizar esse trabalho. Falo da dor real, avassaladora, invisível e silenciosa que não podemos mostrar, só viver, para não chocar e afugentar as pessoas que conosco lidam. Afinal, os famílares de desaparecidos, como todo mundo, precisam ser aceitos, queridos. Além da dor da perda, vivem também a dor da exclusão, já que o sofrimento de quem tem um parente desaparecido e que não volta, continua eternamente pela vida afora.

Estamos agora lidando com o caso de um adolescente enfrentando diversos problemas emocionais devido a perda que atingiu sua família: medo de sair, medo de conviver com outros jovens de sua idade, medo de crescer, medo de viver. Já tentamos de tudo, mas o medo persiste. Como convencê-lo de que precisa sair da zona de conforto provocada pelo medo e pela falsa sensação de segurança? Convencê-lo de que a vida, apesar de assustadora, precisa ser vivida? Que a vida vale a pena? Como convencê-los de que a felicidade é importante se para suas mães ser feliz implica em culpa? É possível ser feliz sem saber onde um ser amado está? Com essa eterna condenação temos que lidar em todos os momentos.

Será que sequestradores de crianças imaginam quantas pessoas afetam como ato de retirá-las de casa? Será que eles tem ideia de quantas pessoas roubam o direito de felicidade e vida plena?

Apesar dos pesares, o medo jamais pode vencer a fé em si mesmo.

Um comentário:

Célia Buarque disse...

Lindo post. Creio que se tivessem a dimensão dessa dor JAMAIS queriam provocá-la em alguém. É dor por demais doída. Mesmo quando o final é feliz nos roubam o brilho pela vida, nos roubam a sensação de que estamos seguros. E somente a FÉ EM DEUS nos fortalece a buscar esperança de que um dia tudo volte a ser como antes. As famílias que continuam nessa agonia peço a Deus que possam ser abençoadas com o retorno de seus filhos amados. Pois só isso pode amenizar esse sofrimento. Lidar com essa dor não é fácil e ainda mais com o descaso, que por vezes existe das nossas autoridades, é ainda mais cruel. Quem nunca passou por tamanha dor que reze aos céus para jamais estar no lugar dessas mães cujos corações sangram.