01 julho 2007

Mães do Brasil vão a Argentina conhecer as Mães da Plaza de Mayo


Em novembro, quando for realizado na Argentina o Congresso Internacional dos Direitos Humanos, Mães do Brasil e Mães da Plaza de Mayo vão se conhecer. Quem dá início aos preparativos para a realização deste encontro é a professora Fernanda de Aragão Ponzio, 26 anos, que se dedica à tese sobre o movimento das mães argentinas. Depois de dar uma palestra para as Mães do Brasil e iniciar um trabalho voluntário com o grupo das mães brasileiras, Fernanda, através de contato telefônico com as Mães de Mayo, falou sobre sua nova atividade.

“Inés Vásquez, que é secretária acadêmica da Universidade das Madres da Hebe De Bonafini, presidente das Madres de Mayo, ficou muito interessada na atuação das Mães do Brasil e vai divulgar as ações delas na Argentina”, confirma Fernanda, que na próxima semana vai endereçar as Mães de Mayo uma carta elaborada pelas Mães do Brasil.

Na semana passada a psicóloga do Portal Kids, Valéria Magalhães, se reuniu com algumas integrantes das Mães do Brasil e pediu que elas escrevessem um texto para as madres. “A experiência foi altamente gratificante”, lembra Valéria. “Foi muito emocionante, pois elas colocaram para fora sua dor e chegaram à conclusão que o sofrimento não é um sentimento apenas delas. Que existem no mundo outras mães que também convivem com a perda de seus filhos e, mesmo assim, não se acomodam no sofrimento”.

“Nos impressionou o fato de que há 30 anos elas se reúnem na Plaza de Mayo sem faltar um único dia. Estou a quatro anos sem minha filha, a saudade dói demais, mas como elas, nós as Mães do Brasil, fizemos da nossa dor uma dor única. Juntas, nos fortalecemos. Está sendo muito bom nossa união com as Mães da Plaza de Mayo. Elas tem muito a nos ensinar”, acredita Elisabete, mãe de Thaís de Lima Barros, seqüestrada aos nove anos, no ano de 2002, por um desconhecido que abordou a menina numa feira-livre.

Wal Ferrão, presidenta do Portal Kids, que também é jornalista, vai unificar o texto das mães numa única carta que será entregue para Fernanda de Aragão. A professora irá traduzi-la para o espanhol e a encaminhará para Hebe De Bonafini, presidenta da Associação das Mães da Plaza de Mayo. "As cartas de próprio punho escritas pelas mães irão junto. Vou apenas compilar as informações para facilitar a tradução”, informa Wal.

A intenção de Fernanda é levar uma representante da Mães do Brasil para a Argentina em novembro, com o objetivo de que participe do Congresso Internacional de Direitos Humanos que acontecerá no país. “Haverá gente do mundo inteiro debatendo sobre a questão dos Direitos Humanos. Acho fundamental a presença das Mães do Brasil. Gostaríamos de levar uma parte do grupo, mas infelizmente não há verbas para isso. Vamos tentar levar uma representante das brasileiras”, conta à professora.

O movimento Mães da Plaza de Mayo surgiu na Argentina quando 14 mães perderam seus filhos no regime militar. Desde então, pontualmente há 30 anos, elas se reúnem na Praça de Mayo em Buenos Aires, num protesto silencioso para lembrar a violência cometida contra seus filhos. O movimento tomou uma dimensão tão significativa que as mães, que hoje são 80, criaram a Universidade Popular, que oferece cursos de Comunicação Social, Serviço Social, Psicologia e História, como forma de manter vivo o ideal de seus filhos que lutavam por uma sociedade mais igualitária. Já as Mães do Brasil existem como grupo há quatro anos. Criado por Tercília Frederico, mãe de Josemar Malveira, portador de doença psíquica que desapareceu aos 15 anos, durante uma festa junina no ano de 1992, o movimento, com o apoio da jornalista Wal Ferrão, busca investigação de qualidade e mudanças na política de atendimento a famílias de crianças e jovens desaparecidos. No ano de 2006, o movimento Mães do Brasil se tornou um dos projetos apoiados pelo Criança Esperança, projeto da TV Globo em parceria com a Unesco e inclui diversas ações a famílias de desaparecidos: campanhas de educação e prevenção, apoio psicossocial e jurídico, grupo de auto-ajuda coordenado por um psicólogo que funciona a exemplo dos Alcoólicos Anônimos e o Coral das Mães Cantoras, onde as mães passam suas mensagens em forma de música, com objetivo de sensibilizar a sociedade para sua causa, além de realizar um trabalho terapêutico através do canto-coral com objetivo de relaxamento e reforço da auto-estima.

Por Luciana Tecidio
luciana.tecidio@portalkids.org.br

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