31 janeiro 2008

Cristiane, uma mulher de luz própria


No último dia 26 de janeiro de 2008 Cristiane Rocha da Silva, funcionária do Procon e estudante de direito, realizou uma palestra para as Mães do Brasil na sede do Portal Kids, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. Aos 22 anos Cristiane, atualmente com 34, levou um tiro do então namorado, depois que ela terminou o relacionamento. Cristiane contou as mães que está entre os raros casos de pessoas que sobreviveram após levar um tiro na cabeça, mas ao despertar ela descobriu que estava cega. Inicialmente, Cristiane recusou-se a acreditar na sua nova realidade. Ela acreditava que a visão acabaria voltando. Com medo que o agressor, que fugiu depois de premeditar e executar o crime pudesse voltar para matá-la, ela passou um ano e meio trancada em casa.

"Dormia o dia inteiro e à noite ficava acordada com medo dele invadir minha casa e me matar", revela ela, que depois desse período de depressão resolveu procurar a mídia em busca de Justiça. Cristiane contou a sua história ao Jornal O Globo e uma semana depois da matéria ter sido publicada, o agressor foi preso em outra cidade. A essa altura ele já estava noivo de outra garota. Julgado e condenado, em março, depois de 11 anos de prisão, o agressor de Cristiane estará nas ruas, beneficiado pela redução da pena.

"Estou com muito medo porque a falta de visão me deixa vulnerável. Se ele quiser se aproximar de mim para acabar o que começou, não posso vê-lo, mas desta vez não vou parar minha vida", diz, cheia de força.

Depois do julgamento, Cristiane resolveu reaprender a viver sua nova condição de deficiente física. Aprendeu a linguagem braile, a andar nas ruas sozinha, conseguiu um emprego como atendende do Procon e hoje chegia um setor todo formado por deficientes visuais.

"A maioria dos atendimentos são feitos por telefone, então ninguém imagina que está sendo atendida por um cego. Isso poderia gerar algum tipo de preconceito. As pessoas pensam que esse tipo de reação não existe, mas enfrento toda hora. Levei quatro anos para conseguir ser aceita numa universidade. Tem professores que me tratam de forma especial, me julgam incapaz de acompanhar a turma. Eu tinha o sonho de ser médica. Mas este homem, além de roubar minha visão, roubou esse meu sonho. Então resolvi me formar advogada porque me tornei uma expert em lutar pelas injustiças", anima-se.

Cristiane não perdeu a esperança de voltar a enxergar. E por isso luta para a realização de pesquisas com células tronco. Sua história, aliada a sua força e bom humor, emocionaram as Mães do Brasil em diversos momentos.

"Não desistam de buscar seus filhos", aconselhou. "Não sou mãe, mas como vocês tive roubado o meu bem mais precioso. Mas eu não desisto e vocês não devem desistir também", finalizou.

A palestra ministrada por Cristiane é uma iniciativa do projeto Mães do Brasil desenvolvido pelo Portal Kids com o apoio do Criança Esperança, um projeto da TV Globo em parceria com a Unesco.

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