12 março 2010
Uma equipe de descontentes
Nosso trabalho é difícil, incomodo. A gente busca olhar o coração da sociedade mas poucos são os que desejam esse olhar. Todo mundo quer um papel social de destaque, mas não se revelar. O ato de se revelar amedronta. Estamos todos em guarda contra o outro, contra a violência e contra nós mesmos. Mas foi esse trabalho que incomoda tanta gente e até a nós mesmos, que nos ensinou que é assim o coração canta. E a busca pela felicidade é o que todos queremos, não é mesmo?
Quando nos conhecem (e mesmo aqueles que já nos conhecem há muito tempo), a pergunta é inevitável: "Por que vocês fazem esse trabalho que envolve tanta dor, desgaste e frustração?" É que nossa equipe é formada por pessoas (em excessão as mães com filhos desaparecidos que passaram a trabalhar conosco) sem tragédias na vida. Pessoas realizadas profissionalmente, com uma família onde se ama e é amado. Um membro de nossa equipe que hoje não trabalha mais com a gente costumava brincar que começamos esse trabalho por absoluta falta de tragédias.
Ontem me dediquei a pensar o motivo de ter me envolvido nesse trabalho, que aos poucos, fui me dando conta, se tornou uma escolha. Talvez seja a eterna busca de satisfação interna que está presente em todo o ser humano. Ser humano é ser descontente. Por que não nos basta amar e sermos amados e ter uma ocupação que nos dê sustento, realização e prazer? Talvez seja porque esse descontentamento natural do ser humano é que leva a sociedade para frente. O descontentamento de nossa equipe nos fez questionar, agir, incomodar e nos angustiar muito. Mas nos deu atitude e todas as iniciativas desse trabalho.
Uma vez li num livro que perguntaram a Jesus: "O que pode nos dar o angustiado?"
"A angústia!" - respondeu Ele.
Na foto nossa equipe de descontentes: a psicóloga Valéria, o psicólogo Gilberto, ladeado pelas coordenadoras das Mães do Brasil Raquel e Elisabete e eu, Wal, que sou jornalista com Nicolas, estudante de jornalismo e coordenador dos projetos jovens do Portal Kids.
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