04 agosto 2010

Tercília, a mãe das mães


Se algo pode ser dito de Tercília Frederico é a sua persistência. Aliás, nisso também puxei ‘mamãe’. Ou será que aprendi a ser mais persistente com ela? Tercília me convenceu a criar o Mães do Brasil quando levei para ela Joana Sena, Suely Porfírio e a Tânia Côssio a matéria que fiz com as quatro para uma revista da Europa, como mencionei no post anterior. Depois de lerem a matéria, ela apontou para mim e determinou:

“Você vai montar o projeto dos meus sonhos! Um projeto para ajudar essas mãezinhas a achar seus filhos desaparecidos e a não se sentirem tão sós!”

“Eu?” – perguntei, escandalizada. “Dona Tercília, eu fiz essa matéria, mas não entendo nada sobre desaparecidos. Nem sei como poderia ajudar vocês!”

As quatro me olhavam com aquele olhar de mãe de desaparecido. Um olhar tão cativante, tão comovente, mistura de desespero, força, esperança e uma dor inimaginável. Nunca mais consegui virar as costas para esse olhar.

“Você vai montar um projeto para mim”, decidiu Tercília. “Você ainda não sabe, mas tem jeito para achar criança desaparecida!”

Um dia ainda vou perguntar a “mamãe” por que cargas d´água ela previu que realmente acharíamos tantas crianças. As quatro estavam muito sós. Eu nem sabia por onde começar. Como elas disseram que a divulgação é a melhor maneira de localizar uma criança desaparecida, resolvi apelar para amigos jornalistas pedindo que divulgassem o caso dos filhos delas. Foi difícil. Descobri que as mães tinham uma imagem péssima junto à opinião pública. Muita gente achava que as crianças sumiam por que elas não cuidavam bem dos filhos. Imagem que não correspondia aquelas quatro personagens de minha entrevista. Todas elas tinham famílias estruturadas, filhos que amavam e criavam com carinho e cuidado. Depois de muito custo, consegui uma primeira matéria. Apresentei alguns casos e o de Tercília e de Tânia não foram escolhidos. Um menino foi localizado através da reportagem. Depois dessa ninguém segurou “mamãe”.

“Não disse que você tinha talento para achar criança desaparecida? Você tem que me ajudar a montar um projeto. Depois de tantos anos virei uma espécie de mãe das mães. Quero ajudar outras mãezinhas com minha experiência”, insistiu ela que não ficou triste por não ter aparecido na matéria que acabou por localizar outro garoto.

“Foi como se meu filho Josemar tivesse voltado um pouquinho para casa”, garantiu emocionada.

Nas fotos Tercília exercendo em seu papel de Mãe das Mães em vários momentos.

Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br

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