29 setembro 2010
A saga de uma família na busca de uma pessoa querida
Tudo começou numa ensolarada segunda-feira de 13 de julho de 2009. Meu irmão Arthur havia saído para dar a costumeira caminhada com nosso irmão João Batista, atualmente com 44 anos, portador de deficiência mental. Arthur chegou em casa desesperado, anunciando que João havia desaparecido diante de uma loja de biscoitos da Avenida Princesa Isabel, em Copacabana (Zona Sul do Rio). Sempre costumávamos comprar biscoitos neste local para oferecer a João durante a caminhada. Arthur entrou para comprar o biscoito, João ficou na entrada da loja como sempre fazia. Quando Arthur voltou minutos depois, não encontrou mais João.
Começava ali a nossa saga. Percorremos a pé todas as ruas dos bairros do Leme e Copacabana – nunca pensei que esses bairros fossem tão grandes. Procurei uma cabine da Polícia Militar que fica na nossa rua na esperança de que o policial de plantão fosse conhecido. Não era. Ele disse que nada poderia fazer para me ajudar. Avistei uma patrulha da PM, me dirigi aos soldados que estavam dentro do veículo e expliquei o que havia acontecido. Dei uma descrição do meu irmão, a roupa que ele vestia (camiseta de malha azul, bermuda branca com listas azuis e tênis azul marinho), que portava a carteira de identidade no bolso traseiro da bermuda, deixei meu telefone. Os policiais disseram que iriam passar um rádio para as outras cabines e patrulhas do Leme e de Copacabana. Segui em frente, falei com porteiros, comerciantes, jornaleiros, a cada patrulha ou cabine da PM fazia o mesmo e eles sempre diziam que iriam passar um rádio para as demais cabines e patrulhas. Não acredito que isso tenha sido feito. Se tivesse acontecido, meu irmão hoje poderia estar em casa. Apelei também para guardas municipais e salva vidas que fazem a segurança das orlas das praias do Leme e Copacabana. Minha mãe percorreu os bairros de táxi. No fim da tarde fomos a diversos hospitais e nada.
Por volta das 23 horas fomos a 12ª DP da Rua Hilário de Gouveia. Hilário mesmo foi a forma que fomos atendidas pelos policiais de plantão. Além de se recusarem a fazer o boletim de ocorrência, o policial ainda perguntou a minha mãe, uma senhora de 70 anos, bastante cansada pela procura de um dia inteiro de um filho doente desaparecido, se ela tinha certeza de que meu irmão não queria desaparecer.
O registro de ocorrência só foi feito no dia seguinte, na 10ª DP de Botafogo, que no entanto nos encaminhou mais uma vez para a 12ª DP, por ser a delegacia responsável por aquela região. Nunca vi uma delegacia tão despreparada. Parecia que eu e minha família éramos os bandidos.
No segundo dia percorremos os abrigos municipais e estaduais, IML (Instituto Médico Legal), Polinter e com o passar dos dias fomos em todos os hospitais da cidade, clínicas conveniadas ao SUS (Sistema Único de Saúde), bombeiros. Por diversas vezes percorremos a cidade com a equipe da prefeitura que recolhe o pessoal da rua. Por incrível que pareça encontramos a maior solidariedade entres os moradores de rua. Eles nos informam onde eles comem, tomam banho, se reúnem, dão indicações onde podemos procurar.
Continuamos na busca por meu querido irmão e tenho certeza que iremos encontrá-lo, mas temos que procurar modificar algumas coisas para facilitar a busca dessas pessoas, principalmente de crianças, pessoas portadoras de deficiência e/ou distúrbios psíquicos e de pessoas idosas, pois da forma que acontece atualmente fica difícil.
Alice Mattos, irmã de João e a mais nova integrante do movimento Mães do Brasil.
No próximo post você verá as dicas de Alice para famílias que buscam portadores de doenças psíquicas. Acima fotos de João, que quando desapareceu estava bem mais magro, tiradas do álbum de família. Se você tem alguma informação sobre ele envie um e-mail para maesdobrasil@portalkids.org.br ou ligue (22) 2651 74 62
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