04 novembro 2010

A Cabana


Estou terminando de ler o livro A Cabana, de William P. Young. Busquei esse livro pela semelhança com minha vida. É a história de um pai que tem a filha de seis anos sequestrada e assassinada e que questiona o motivo de Deus ter permitido que tanta brutalidade acontecesse. Para quem não conhece minha história, também tive minha sobrinha Larissa, de 11 anos, que eu criava e considerava como minha filha, sequestrada em 2008.

Esse livro me ajudou a entender o que aconteceu e amenizar um pouco meu sofrimento. Esse pai está num passeio com os quatro filhos e ao ver um se afogando no rio, entra para salvá-lo. Quando volta sua filha desapareceu. No dia em que minha sobrinha foi sequestrada também sai para levar a irmã dela que passava mal no pronto socorro e nesse momento Larissa foi levada.

Como esse pai, que se culpa por não poder ter estado com a filha e ajudá-la, eu também me culpei por não estar com Larissa no momento do sequestro. Não poder ajudar, não poder impedir. Naquele dia olhei para minha sobrinha e senti como se a alma dela estivesse gritando. Foi uma sensação tão estranha que cheguei a perguntar se não queria ir ao médico comigo e com a irmã, mas ela preferiu ficar em casa com meu filho. Larissa estava normal, era o meu coração que pressentia a perda dela, mas na hora não eu não soube identificar.

Com a morte da filha esse pai parou de viver. O tempo todo pensando no sofrimento que a filha enfrentou ao ser assassinada. Não sei o que aconteceu com Larissa. Então, para mim, o tempo todo ela está sofrendo. Apesar disso tenho que esconder de meu filho, de meu marido, a dor que eu sinto. A raiva que eu sinto. Não posso e nem quero que o meu filho se alimente dessa minha raiva.

Sofro uma dor que nunca termina, é uma dor que ninguém sabe, que ninguém consegue imaginar, só quem vive é que entende que essa dor está o tempo todo presente. Esse livro me deu um alívio. Principalmente em minha relação com Deus. Como esse pai eu também tive e tenho meus momentos de briga com Deus. Pergunto para Deus onde Ele estava e por que deixou que isso acontecesse com minha sobrinha. São questionamentos que surgem mesmo na vida de quem fica perdido no mundo depois que um filho sofre uma violência como essa.

Hoje faço tudo em minha vida. Mas sou triste. Se estou no shopping e me pego sorrindo, eu me culpo por sorrir. Me culpo quando sinto que estou gostando de comer algo. Não posso entrar numa loja e passar próximo a roupas de meninas. Entrar num supermercado é um sofrimento, pois lembro o quanto minha sobrinha se divertia ao fazer compras comigo. O quanto ela gostava de shampus e meu marido dizia: “Pode escolher o que quiser que o tio compra!” Eu durmo, mas é difícil, meu sono é sem paz. Não há um dia, um momento em que eu não pense se Larissa está sofrendo, se está sendo espancada, estuprada.

Em determinada parte do livro Deus pede ao homem que seja o Juiz do sequestrador de sua filha. Pede que diga tudo o que ele tem vontade que aconteça com o sequestrador. Então pergunta ao homem se ele teria coragem de jogar no inferno um filho que não aprendeu direito suas lições. Não vou dizer que não tenho raiva, que não deseje Justiça, mas depois disso entendi o motivo de Deus, como pai, querer resgatar a alma dos sequestradores e assassinos de crianças.

Outro momento importante é quando Deus explica ao homem que embora sua filha tenha tido muito medo no momento em que foi levada à força, no momento em que foi assassinada ela não sofreu, porque Deus entrou no corpo dela. Isso ajudou a amenizar meu sofrimento. Agora, quando penso que Larissa está sofrendo, de alguma forma, sei que Deus está dentro dela, amenizando a sua dor.

Raquel Gonçalves, tia e mãe do coração de Larissa.

2 comentários:

Célia Buarque disse...

Que bom que você pode perceber que Deus não é o responsável pela miséria humana. Somos nós mesmos que escolhemos nossos caminhos e algumas vezes somos atropelados pelos caminhos dos outros, que nem sempre andam em busca de luz. Oremos pelos que vivem na escuridão para que ao encontrá-los não nos tragam tanto sofrimento.

Logan disse...

Realmente esse livro nos traz um entendimento mais amplo da vontade e o trabalho de DEUS em nossas vidas, li o livro e seu depoimento e fiquei comovido, sei que muitas mães e pais passam por isso, tenho uma filha de 6 anos e não saberia o que fazer se acontecesse algo assim com ela, mas DEUS sabe o que faz e tudo tem um propósito maior em nossas vidas, assim como está descrito no livro, força amiga!