29 novembro 2010
Gilberto, o querido
Sempre que acontece algo de muito importante com as Mães do Brasil, elas costumam pedir para falar com Gilberto. Com Socorro não foi diferente no dia em que conversou por telefone com a filha que buscava há 30 anos pela primeira vez.
Durante dois anos Gilberto Fernandes foi o psicólogo que coordenou um grupo de apoio psicológico formado por mães de crianças desaparecidas, um projeto inédito de nossa instituição, que foi desenvolvido com o apoio do Criança Esperança, projeto da TV Globo em parceria com a UNESCO. Conheci Gilberto no fim do ano de 2005 na DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima) do Rio de Janeiro. Naquela época estudávamos a proposta de montar um núcleo da delegacia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que seria especializado em desaparecimento de pessoas. O então delegado titular da DCAV, Dr. Leonardo Tumiati, queria um aproximação maior entre seus policiais e a equipe do Portal Kids e insistiu para que eu conhecesse o Gilberto, que fazia atendimento psicológico a crianças vítimas de abuso sexual, casos que a delegacia cuidava.
Teimei que não precisava. Tão desconfiada quanto às mães, só gostava mesmo de lidar com o policial que cuidava dos nossos casos, o inspetor Marcus Guimarães.
“Não resista Wal Ferrão! Você tem que conhecer o Gilberto. Ele tem tudo a ver com seu trabalho”, insistiu o delegado.
Na reunião, Gilberto conversou mais com Valéria Magalhães, psicóloga e diretora do Portal Kids, mas no final me surpreendeu com a declaração:
“Essa delegacia não sai do papel, mas gostei de seu trabalho. Me ofereço para trabalhar na ONG.”
Lancei-lhe um olhar atravessado. Que atrevimento ele dizer que o projeto da delegacia especializada, sonho antigo das Mães do Brasil, não iria se concretizar. Limitei-me a informar que não tínhamos apoio financeiro e eu e Valéria trabalhávamos com as Mães do Brasil de forma voluntária.
“Me ofereço como voluntário!”, insistiu Gilberto e até escreveu de próprio punho seus contatos telefônicos na minha cadernetinha.
Fiquei tão desconfiada com a insistência que cheguei a perguntar ao inspetor Guimarães se o policial em questão queria nos investigar. Guimarães achou graça e garantiu que Gilberto tinha mesmo se impressionado positivamente com nosso trabalho.
Em janeiro, o Dr. Tumiati foi inesperadamente transferido da DCAV e o sonho da delegacia se desfez. Em junho, ganhamos o apoio do Criança Esperança e começamos eu e Valéria a procurar outro profissional de psicologia que dividisse com ela o atendimento das mães. Valéria lembrou de Gilberto. Resolvi chamá-lo para que participasse de umas reuniões de preparação do projeto, sem compromisso. Mas ele, não só se encaixou perfeitamente no que queríamos, como acrescentou sua vasta experiência e capacitação.
Antes de começar a realizar entrevistas individuais com as Mães do Brasil, surgiu a dúvida. Revelaríamos que além de psicólogo ele era policial? As mães não tinham lá uma boa imagem e muito menos um bom relacionamento com a polícia. Nunca menti para as mães. Gilberto também preferia dizer a verdade. A reação delas vocês ficam sabendo num próximo post.
Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br
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