01 novembro 2010

Joana D´Ark, a mãe doce


Ela tem o nome inspirado na guerreira francesa, canonizada em 1920, quase 500 anos depois de ser queimada viva. Pode-se dizer que a nossa Mãe do Brasil é também uma heroína, uma doce heroína.

Joana D´Ark Sena é uma das quatro mães que me inspiraram a criar o movimento. O que de cara me chamou atenção ao conhecê-la foi sua docilidade. Acabamos muito amigas, mas sempre a tratei por D. Joana. Talvez porque emane dela um respeito, uma dignidade.

Dona de casa, bem casada, mãe de quatro filhos, a vida harmoniosa de D. Joana virou do avesso quando sua filha Suzana Sena, então com nove anos, saiu para comprar uma folha de papel almaço para a irmã mais velha terminar de fazer um trabalho escolar, na papelaria que ficava há 20m de sua casa, no bairro de Bonsucesso, Zona Norte do Rio de Janeiro. No trajeto de ida, a menina foi vista por uma amiguinha, vizinha de sua rua, mas o proprietário da papelaria garante que lá ela não entrou.

D. Joana estava na escola das filhas, numa reunião de pais, e por isso não se encontrava em casa naquela manhã de 23 de maio de 1993. Quando retornou, pouco depois de Suzana desaparecer, se desesperou por não encontrar a filha. Chamou o marido e junto com parentes e vizinhos foram ao hospital de Bonsucesso, ao IML e finalmente à polícia.

“Olhe a minha filha!” – pediu-me ela no dia em que nos conhecemos, me mostrando a foto de uma menina lindíssima, de pele clara, cabelos negros, parecendo uma modelo infantil, com chapeuzinho de palha na cabeça e batom vermelho na boca sorridente.

“Que linda!” – comentei, devolvendo a foto.

Ela observou atentamente minha reação e parece que gostou do que viu em minha expressão. De forma terna, resignada, comentou:

“Sabe o que o delegado disse quando viu a foto da Suzana? ‘Ah bonita desse jeito, de batom, essa menina fugiu com o namorado.’ Expliquei que aquela era a última foto que eu tinha da Suzana, tirada durante um teatrinho na escola, mas ele continuou desconfiado. Para os policiais, todas as meninas que desaparecem de casa fogem com o namorado.”

“O que a senhora acha que aconteceu?” – perguntei.

O que ela me respondeu, guardei para sempre, e repeti em muitas entrevistas em que participei representando a causa das crianças desaparecidas:

“Não faço ideia... Foi como se o chão a tivesse tragado... como se Suzana nunca tivesse existido... Como pode uma criança sumir assim?”

Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br

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