17 dezembro 2010

Respeito e aceitação é só o que as mães de desaparecidos precisam


Hoje foi um dia corrido, tive que conciliar o fechamento da revista em que trabalho com os preparativos para a cerimônia de entrega do Prêmio Top Blog. Ainda revisei os primeiros textos do Nicolas Raline para o blog do projeto Gente do Amanhã que será lançado no mesmo dia da entrega do prêmio. Organizamos também um encontro de Natal das Mães do Brasil que acontecerá na próxima quinta, 23. Nunca comemoramos Natal, até porque, uma de nossas meninas, a Thaís, foi sequestrada no dia 22 de dezembro de 2002, quando tinha apenas nove anos. Este ano, a pedido da mãe dela, Elisabete, que é coordenadora das Mães do Brasil, nós vamos nos encontrar para nos abraçarmos e reafirmar o amor que nos une.

Essa semana em meio à emoção da última reunião do ano do projeto Gente do Amanhã, da expectativa da entrega do Prêmio Top Blog, da notícia da provável criação de uma delegacia especializada em desaparecimento de crianças e jovens no Rio de Janeiro – luta antiga de nossa instituição - colhi depoimentos das Mães do Brasil sobre o atendimento do psicólogo Gilberto F. da Silva. Uma homenagem surpresa para ele. Como o atendimento psicológico é igual a um confessionário, nunca tinha conversado com as mães tão profundamente a respeito do que Gilberto significou para elas. Fiquei muito emocionada com os depoimentos. “Há um gesto que diz mais do que palavras”, disse Raquel sobre Gilberto. E eu digo a vocês que essas palavras das Mães do Brasil para ele, uma pessoa que trouxe respeito e aceitação para a vida delas, falam por si.

Particularmente estou muito emocionada com a indicação do Prêmio Top Blog. Por que esse prêmio materializa justamente esse respeito e aceitação que nosso trabalho sempre buscou para as Mães do Brasil.

Hoje, conversando sobre o prêmio, eu e Valéria Magalhães, diretora do Portal Kids, concluímos que nosso trabalho sempre foi e sempre será voltado para pessoas como o Gilberto, o Nicolas, o Alessandro Lo-Bianco, responsável pelo designe do blog. Obrigada meninos, vocês são o nosso maior prêmio.

Querido Gilberto obrigada por tudo que você ofereceu e continua a oferecer as Mães do Brasil. As mensagens delas para você:

Elisabete - Quando a Wal falou que você iria me atender, falei logo que não queria, pois já tínhamos intimidade com a Valéria e gostaria que fosse ela, mas Wal insistiu pra eu conhece-lo. Você já começou mal visto por nós por ser um policial. Na verdade, nem todos os policiais são iguais, conheci uns muito bons e você é um deles. No inicio foi tão difícil falar o que se passava na minha mente porque eu achava que só as mães que passam sabem do sofrimento uma da outra, mas você é um grande profissional, Gil. Conseguiu mexer tanto nos meus sentimentos, que eu tinha deixado intocáveis. Não gostava de falar, de chorar, mas você conseguiu. Lembro-me da primeira vez que chorei parecia que eu não iria parar nunca, mas consequi dizer tudo que se passava dentro de mim. Você, como sempre, ouvia e jamais nos julgou. Hoje, Gil, te considero um amigo querido. Peço todos os dias que Deus o proteja de qualquer perigo. Você é um homem com um coração grandioso que respeito, admiro e que faz parte desta amizade bonita e verdadeira. Sei que qualquer problema é só falar com você que me atenderá. Hoje venho caminhando e com o apoio que tive de você aprendi a sobreviver. Você me ensinou tantas coisas que nem imagina. Agradeço todo o carinho com me tratou e toda a ajuda que me deu, que foi primordial pra minha evolução nesta luta. Quem tem um amigo tem um tesouro, eu tenho alguns tesouros com a graça de Deus. Grande abraço meu amigo!

Cristiane – Gilberto, você foi um excelente psicólogo. Você mudou muitas coisas em minha vida, me deu muita força. Me ajudou a superar o sequestro e morte de minha filha e me fez entender que eu precisava cuidar mais de meus outros filhos. Eu superei tudo, tive de novo vontade de viver. Se eu tivesse que fazer novamente atendimento psicológico, com certeza seria só com você. Se tive força psicológica para chegar até aqui foi graças a sua ajuda.

Maria do Socorro – Você mudou tudo em minha vida, Gilberto. Eu me sentia muito mal. Não tinha vontade de falar com ninguém. Achava que psicólogo era coisa para rico e para maluco. Hoje digo e reafirmo que todo mundo deveria ter um psicólogo, principalmente um psicólogo como você. Gilberto, você fez com que eu me valorizasse em todos os sentidos. Antes de começar o atendimento eu vivia para o trabalho e para meu filho. Ir a uma praia, a uma praça, a um cinema, não era para mim. Você me fez entender que eu precisava viver, ser feliz, me entender, para conseguir me entender e ajudar meu filho. Eu não me amava, esquecia de mim. Aos poucos fui me arrumando, me maquiando, passando a fazer coisas também para mim, como você nos estimulava. O que eu mais gostava nos atendimentos é que você nunca repetia um assunto. Cada dia nos apresentava uma coisa nova da vida. Os outros psicólogos que me mandavam, só diziam que eu tinha que entender o meu filho, mas você me ensinou a me entender primeiro. Hoje consigo conversar, ler com meu filho, dançar com meu filho. Antes de começar o tratamento com você eu tinha medo de tudo. Hoje não tenho medo de nada. Sou poderosa, sou feliz. Te mandei um filme lindo pelo Orkut. Feliz Natal, Gilberto.

Raquel – Gilberto, você representou uma segurança num momento em que eu sentia que o mundo inteiro queria me apedrejar. Me sentia agredida. Depois do sequestro de minha sobrinha, onde eu ia, sentia que as pessoas me olhavam com crítica, ninguém queria me ouvir. Me sentia crucificada. Você ao contrário, me ouviu, nunca me criticou. Deixou-me falar e deixou-me ficar muda. Sei que algumas vezes fui até agressiva com você, mas você teve paciência. Você foi um presente para mim, independente de ser um psicólogo, foi um ser humano. Eu me sentia excluída em minha dor e você me fez sentir importante. Me fez entender que eu não tive culpa do que aconteceu com minha sobrinha. Você foi meu porto seguro, Gilberto. Acreditou em mim, quando minha própria família não acreditou. Me tratou com respeito e aceitação. Existe um gesto que se traduz mais do que essas palavras, que é o abraço. Sinta-se abraçado, meu amigo.

Na foto Gilberto ninando Yaguinho, o filho caçula das Mães do Brasil

Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br

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