14 fevereiro 2011

Tristeza


Sinto uma tristeza tão profunda pelas crianças que não conseguimos encontrar. Tristeza que sempre me acompanha, mas se esconde e se disfarça na vida que segue. Mas, as vezes, do nada, ela escapa, como agora em que eu, da janela, olhava à noite.

Veio de supetão, como uma faca fina rasgando o coração. Será que foi o recente aniversário da Dyanna? Onde estará Dyanna que eu nem quis fazer a conta de quantos anos fez? Dói demais pensar na idade em que as crianças estarão agora.

Penso no sorriso de Dyanna e me invade a mente o sorriso de Thais com sua beleza exótica. Ai me vem a mente Larissa que, quando foi sequestrada, bastava eu fechar os olhos para sentí-la tão perto, mas tão perto, que eu chegava a estender a mão como se ela fosse capaz de segurá-la e voltar para casa.

Recordo um sonho que tive com Michele. Foi há anos e tão real que o conservo até hoje. Michele caminhando segura ao meu lado por um descampado me contando algo que eu depois não consegui lembrar.

Me vem a mente, talvez uma defesa da própria mente para suavizar a dor, a imagem de uma das meninas que reencontramos após uma busca de seis anos. De como ela correu sorridente e se jogou nos meus braços e como nessa hora se esquece toda a dor. Sua presença é um bálsamo, assim como todas as crianças que reencontramos.

Lembro das denúncias que chegaram até nós e não se concretizaram. Tantas e que deixaram um vazio tão grande depois da esperança. Onde estarão as crianças tragadas pela noite?

Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br

2 comentários:

Gaabriela disse...

Lindo seu desabafo, Wal. Duro e lindo.

Célia Buarque disse...

Realmente essa nossa impotência diante de uma dor tão cruel é algo desanimador, embora que momentâneo, pois sabemos que a busca só terá um fim quando encontramos nossos amados filhos. Que Deus abençõe a cada família que tem um desaparecido para procurar, pois precisam de muita força. Desistir jamais! Diante de minha impotência passei a orar todas as noites pelos que ainda estão desaparecidos, pois o meu filho eu consegui, por milagre divino, reencontrar, mas no coração ficou a dor pelos que ainda sofrem.