01 abril 2011

Sinto muita falta


Ultimamente tenho olhado muito para a foto de meus filhos. Ambos eram muito unidos. Quando foram morar com o pai, sofri muito. Mas tinha consciência de que, no momento, era o melhor a fazer. Sempre quis o melhor para eles, mesmo que fosse longe de mim. Precisava trabalhar e com o pai, que mora numa cidade pequena, acreditei que cresceriam longe da violência dos grandes centros e da maldade humana. Meus filhos sempre tiveram uma forte ligação com o pai, assim como o pai com eles. Todos nós acreditamos que em uma cidade mais tranquila, a vida seria melhor.

O destino nos pregou uma peça. Perdemos o sorriso lindo, inocente, o olhar cheio de vida dessa garotinha que nasceu com muitos problemas de saúde, ficou meses no hospital, mas que sempre teve muita vontade de viver. Quando ela olhava para mim e para o pai no hospital, seu olhar parecia nos dizer: “Não desistam de acreditar. Eu vou viver!”

Dyanna realmente venceu todas as dificulades e se tornou uma menina meiga, carinhosa, simpática, carismática e que, acima de tudo, amava o irmão mais novo. Vivia grudada nele. Era sua defensora e protetora.

Hoje Dyanna não está mais com a gente. Desde que ela se foi não sei o que é viver de verdade, o que é sorrir. Perdi minhas referências. Não sei mais quem sou. E nem consigo mais viver a vida que tinha antes.

O que é a vida de verdade? Fico pensando como podem existir pessoas tão ruins como as que levaram minha filha. Pessoas que vem e destroem uma família inteira. Perdi minha “Dadá” e minha capacidade de acreditar na vida. Perdi a vontade de viver. O que me dá forças para acordar e recomeçar é que ainda tenho meu filho, meu menino lindo.

Confesso que têm horas que a saudade de minha filha é tanta que sinto que meu coração parece que vai deixar de bater.

Não tive o direito de viver o luto da possivel morte de minha filha pois não sabemos o que aconteceu. Dyanna desapareceu sem deixar qualquer sinal, como se nunca tivesse existido. O vazio que sinto se mistura com um turbilhão de sentimentos: desilusão, impotência, fracasso, culpa. Assim se sente toda a mãe que perde um filho vítima do desaparecimento. Gostaria de dizer a minha filha que sinto muito por não estar ao lado dela no momento em que mais precisou de mim. Sinto muito por me achar incapaz de lhe dar uma vida melhor. Desculpe filha, mas quando olho sua foto e lembro que você não está mais comigo, penso em morrer. Se bem que não preciso morrer porque morro a cada instante, a cada lembrança, morro cada vez que fecho os olhos e a escuto me chamar de mãe.

Perdoa-me Dyanna.


Por Diana Soares, mãe da Dyanna e Mãe do Brasil


NOTA: Escolhemos este depoimento de Diana como forma de encerrar as ações que aconteceram esta semana, de mobilização pela Criança Desaparecida. É o nosso retrato. Enquanto não se implantam políticas de atendimento realmente eficazes, para nós resta apenas a dor. Mães do Brasil.

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