26 outubro 2013

Vale a pena divulgar cartazes de desaparecidos?

Ontem ouvi uma teoria que me leva hoje a escrever esse post: "A de que não adianta divulgar fotos de pessoas desaparecidas porque, além de cansar as pessoas que as recebem nas redes sociais, a polícia não está estruturada para realizar investigações dessa natureza."

Optei por ilustrar essa postagem com a foto do primeiro – e único - cartaz que nossa instituição conseguiu confeccionar, no ano de 2006, com o apoio do Criança Esperança, um projeto da TV Globo em parceria com a Unesco. Lembro o dia em que fomos, eu e a diretora e psicóloga Valéria Magalhães, buscar os cartazes prontos. A emoção foi tanta que até torci o pé, atrapalhada com o peso dos cartazes nas mãos. Lembro do olhar arregalado de emoção da Valéria e do comentário que ela fez ao ver o resultado: “Ah, ficou lindo, as mães vão adorar!”
Ali, em nossas mãos, estava o sonho das Mães do Brasil, acalentado durante tanto tempo. O cartaz de seus filhos, com dicas de prevenção.
Uma dessas crianças foi localizada através do cartaz. Recebemos denúncias de muitas outras, que ajudaram a tirar meninas da máfia da prostituição infantil no Brasil inteiro. Antes do apoio do Criança Esperança, eu costumava enviar os cartazes individuais das crianças para os e-mails das delegacias, ligar para os policiais, pedir que imprimissem e colassem na parede. Algumas delegacias faziam, outras nem impressora tinham. Foi através de um cartaz assim, impresso em uma delegacia, que localizamos uma menina sequestrada há oito anos. Não vou aqui detalhar os oito anos de horror vivido por essa criança. Nem mesmo sua coragem, sua capacidade de resistência e superação. Prefiro contar, preservando sua identidade, que ao lado da equipe do Portal Kids, ao lado das Mães do Brasil e das crianças assistidas por nossa instituição, muitas hoje integrantes do Projeto Gente do Amanhã, ela teve sua primeira festa de aniversário, a primeira Barbie, um enxoval de roupas completo, foi pela primeira vez à escola, brincou, riu e o melhor de tudo, pode voltar a conviver com sua mãe.
Tudo isso só foi possível porque o cartaz enviado por e-mail por nossa instituição à delegacia, impresso e colado na parede por um policial e reconhecido por uma pessoa que foi ao distrito policial registrar queixa de assalto, olhou para a parede enquanto esperava atendimento e suspeitou: “Acho que essa bebê é a menina que toda hora passa diante da minha casa!”
Fica a você a escolha de divulgar ou não cartazes com imagens de pessoas desaparecidas. Tudo o que eu posso dizer é que o policial que imprimiu o cartaz, a pessoa que reconheceu a foto e o policial que nos ligou para comunicar o reconhecimento e foi até a casa onde a menina estava encarcerada verificar a ocorrência, livrando-a de seu cativeiro, foram os responsáveis pelo milagre pelo qual essa criança, sua mãe e todos nós, buscávamos. O realizador do milagre foi Deus, mas o instrumento foi mesmo o cartaz.

Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br

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