Optei por ilustrar essa postagem com a foto do primeiro – e único
- cartaz que nossa instituição conseguiu confeccionar, no ano de 2006, com o
apoio do Criança Esperança, um projeto da TV Globo em parceria com a Unesco.
Lembro o dia em que fomos, eu e a diretora e psicóloga Valéria Magalhães, buscar
os cartazes prontos. A emoção foi tanta que até torci o pé, atrapalhada com o
peso dos cartazes nas mãos. Lembro do olhar arregalado de emoção da Valéria e
do comentário que ela fez ao ver o resultado: “Ah, ficou lindo, as mães vão
adorar!”
Ali, em nossas mãos, estava o sonho das Mães
do Brasil, acalentado durante tanto tempo. O cartaz de seus filhos, com dicas de
prevenção.
Uma dessas crianças foi localizada através do cartaz.
Recebemos denúncias de muitas outras, que ajudaram a tirar meninas da máfia da
prostituição infantil no Brasil inteiro. Antes do apoio do Criança Esperança,
eu costumava enviar os cartazes individuais das crianças para os e-mails das
delegacias, ligar para os policiais, pedir que imprimissem e colassem na
parede. Algumas delegacias faziam, outras nem impressora tinham. Foi através de
um cartaz assim, impresso em uma delegacia, que localizamos uma menina
sequestrada há oito anos. Não vou aqui detalhar os oito anos de horror vivido
por essa criança. Nem mesmo sua coragem, sua capacidade de resistência e
superação. Prefiro contar, preservando sua identidade, que ao lado da equipe do Portal
Kids, ao lado das Mães do Brasil e das crianças assistidas por nossa
instituição, muitas hoje integrantes do Projeto Gente do Amanhã, ela teve
sua primeira festa de aniversário, a primeira Barbie, um enxoval de roupas
completo, foi pela primeira vez à escola, brincou, riu e o melhor de tudo, pode
voltar a conviver com sua mãe.
Tudo isso só foi possível porque o cartaz enviado por e-mail
por nossa instituição à delegacia, impresso e colado na parede por um policial e
reconhecido por uma pessoa que foi ao distrito policial registrar queixa de assalto,
olhou para a parede enquanto esperava atendimento e suspeitou: “Acho que
essa bebê é a menina que toda hora passa diante da minha casa!”
Fica a você a escolha de divulgar ou não cartazes com imagens
de pessoas desaparecidas. Tudo o que eu posso dizer é que o policial que
imprimiu o cartaz, a pessoa que reconheceu a foto e o policial que nos ligou para
comunicar o reconhecimento e foi até a casa onde a menina estava encarcerada
verificar a ocorrência, livrando-a de seu cativeiro, foram os responsáveis pelo
milagre pelo qual essa criança, sua mãe e todos nós, buscávamos. O realizador do
milagre foi Deus, mas o instrumento foi mesmo o cartaz.
Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br
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