28 maio 2015

Maioridade penal em debate: você é a favor ou contra? Conheça a proposta do Portal Kids



Nos últimos meses, um tema tem alcançado destaque em vários meios de comunicação, nas redes sociais e nas conversas entre amigos: A redução da maioridade penal.

Quando me perguntam se sou a favor ou contra, respondo que sou contra. Devido a uma de minhas profissões: policial civil aqui do Rio de Janeiro, essa resposta causa certo espanto e desconforto em meu interlocutor. Não é assim que a maioria dos policiais pensam. Só esclarecendo, também sou psicólogo.

Aproveitando essa reação que minha posição causa, achei que seria interessante, expor o que me leva a pensar dessa forma, diante de um tema tão polêmico e importante.

Não quero com isso impor ou convencer alguém a mudar de opinião, mas confesso que ficaria muito feliz se minhas ideias e pontuações gerassem um debate saudável e profundo sobre tal tema. Por conta disso peço apenas alguns minutos de sua atenção.

Se continuam lendo é porque meu pedido foi aceito. Obrigado por isso. Espero corresponder à altura.

De início devo dizer que, o “menor infrator” NÃO É uma pobre vítima da sociedade que o oprime.  Os crimes bárbaros e violentos cometidos por adolescentes devem ser objetos de duras sanções penais. Os adolescentes têm condições de discernir sobre o certo e o errado, inclusive eles têm plena consciência do que fazem, mesmo quando suas ações são cometidas sobre efeitos de drogas e alucinógenos. Se assim não fosse, se arrependeriam quando descobrissem o que fizeram. Na prática não é isso que se vê, pelo contrário, se vangloriam e se regozijam com a fama e o sucesso alcançado entre seus pares.

Talvez o leitor esteja se perguntando: Se pensa assim porque é contra a redução da maioridade penal?

Pode parecer estranho, mas são os motivos expostos acima que me dão a convicção de que a questão está sendo colocada de forma errada.  Pior! Não é por engano, mas sim com a intenção de enganar a população.

No meu entendimento, quando clama pela redução da maioridade penal a população deseja exercer em sua plenitude seu direito de ir e vir. Deseja poder usufruir dos bens adquiridos com o suor de seu trabalho. Deseja que seus filhos possam ir tranquilos para escola sem correrem o risco de sofrer um roubo, que muito mais que a perda do bem material, possa causar danos emocionais graves. A parcela idosa da população deseja ter o direito de transitar tranquila pela rua, sem correr o risco de sofrer um assalto que lhe privará de um bem material e junto lhe causar um dano físico, às vezes irreversível. Em resumo A POPULAÇÃO QUER SEGURANÇA.

Agora me respondam, com sinceridade, leitores deste blog: Vocês acreditam, de verdade, que uma simples lei vai de fato mudar o quadro desenhado acima? Que caso seja aprovada a redução da maioridade penal num dia; no dia seguinte tudo estará automaticamente mudado e tranquilo?

Só para ilustrar, desde 1990 (há 25 anos) que alguns crimes como: homicídios, estupro, latrocínio (roubo seguido de morte), estupro de vulnerável (abuso sexual de crianças), são considerados CRIMES HEDIONDOS, com isso suas penas são mais duras e com menos benefícios para o autor. Pergunto: Alguém percebeu a diminuição da ocorrência desses crimes pela simples entrada em vigor dessa lei?  Claro que não!

A Lei Maria da Penha, criada em Agosto de 2006 (há cerca de 09 anos), acabou com a violência doméstica contra a mulher? Claro que não!

Aí está o engodo que nos empurram goela abaixo. Desviam o foco da real necessidade, nos fazendo acreditar que a criação de uma simples lei vai mudar toda uma realidade. Bem talvez isso ocorra se paralelo a redução da maioridade penal, se faça uma forte campanha de marketing, informando aos “menores infratores” que a partir de agora eles podem ser presos, caso cometam crimes!

Caros leitores o que mudaria de fato essa realidade de insegurança em que vivemos nas grandes cidades, seriam ações de governo a nível federal, estadual e municipal, integrando as três esferas de poder: legislativo, judiciário e executivo. TODOS, EU ESCREVI, TODOS BUSCANDO ENTENDER E RESOLVER O PROBLEMA DA CRIMINALIDADE INFANTO JUVENIL, que mesmo tendo seu ápice na área de segurança pública, não tem início nesse ponto. Para ser um problema de segurança pública, o adolescente infrator trilhou um longo caminho de dificuldades, sofrimentos e abandonos, onde, das poucas opções disponíveis o crime é a mais fácil de entrar, porém a mais difícil de sair, pelo menos vivo, pois a marca que ela deixa vai além das ações praticadas. Ou alguém se sente seguro ao contratar um ex-presidiário como motorista particular ou porteiro de seu prédio? Mesmo que esteja de fato recuperado?

Caro leitor uma lei só se torna realmente eficaz se na prática as sanções nela contida, forem  realmente aplicadas ou pelo menos deixar claro que essa possibilidade é real.

Vejam a Lei Seca, que nada mais é do que a aplicação, na prática, de sanções explicitadas no Código de Trânsito. É possível dizer, com certeza, que ela mudou o comportamento de muitos bebedores noturnos. Não acabou com a embriaguez ao volante, mas diminuiu.

Vamos comparar com a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos. O que muda realmente, na prática, com essa mudança cronológica?

Vou dar um exemplo, hipotético, da realidade aqui no RJ sobre esse tema. Uma equipe policial, durante uma ronda, aborda um grupo  “padrão” ( negro, pobre, analfabeto) de adolescentes suspeitos, as duas da madrugada, num local ermo. Um deles, mesmo tendo 16 anos, alega ter 15 anos e porta uma arma de fogo, nenhum deles tem documentos. Aos olhos da lei essa  equipe de policiais deveria conduzir o adolescente infrator (portar arma de fogo é crime) para delegacia, na condição de ter 15 anos, pois para lei a palavra dele vale, até que se prove o contrário. Também acionar o Conselho Tutelar, para que esse órgão de proteção a criança e ao adolescente, compareça ao local e  encaminhe os adolescentes aos  seus responsáveis, ou caso não  os localize, os encaminhe a um abrigo. Pergunto: Alguém encontra algum conselheiro tutelar às 2 horas da madrugada? Se encontrar esse conselheiro vai ter os meios necessários para cumprir com sua função? E enquanto esse conselheiro não chega o policial mantém os outros adolescentes detidos na rua, expostos a constrangimentos, e com isso fica passível de processo criminal? Por não estarem cometendo crime não podem ser colocados dentro de uma viatura policial contra a vontade deles. Ou seja, pela lei, eles podem ir embora a hora que quiserem. Por acaso a redução aborda essa questão?

Muitos cometem pequenos furtos para se alimentar (não estou justificando, mas apenas descrevendo uma realidade), para esses a única solução é a cadeia? Isso realmente vai resolver o problema da criminalidade infanto-juvenil ou apenas vai adiá-la ou até aperfeiçoa-la? A redução aborda essa questão?

Caros leitores, não vou me alongar mais, paro por aqui, porém peço que não se iludam com essa proposta da forma (sim ou não) como está sendo colocada pela mídia. Pensemos! Reflitamos! Não sejamos marionetes nas mãos de políticos poderosos e inescrupulosos. Vamos exigir um amplo e profundo debate sobre o tema. Só isso poderá realmente mexer, de forma positiva, com essa questão: A criminalidade infanto-juvenil.
 
Por Gilberto Fernandes da Silva, diretor e psicólogo do Portal Kids
 
 
 

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