16 setembro 2015

Visita a Sidinéia

Wal e Luciene com Sidinéia exibindo a filha Larissa no peito

Na segunda, 14, eu e a mãe Luciene Torres fomos visitar a Sidinéia Machado. Sua filha Larissa, de 14 anos, que estava desaparecida, teve o corpo identificado. Sidnéia passou por toda a "via crucis" da mãe que teve a filha desaparecida. Buscas sem fim em recantos perigosos do Rio de Janeiro para apurar denúncias que chegavam para ela, IML, hospitais. Quando um corpo de menina foi encontrado com as características de sua filha, ela não pode acreditar. Fez o DNA e depois de uma espera de quase 9 meses, um segundo parto, descobriu que a filha havia mesmo voltado para Deus. Nessa busca perdeu emprego, a paz, a tranquilidade. Ganhou aquela dor desumana da mãe que perde seu filho.

Sidinéia ficou muito feliz com nossa visita. Misturou sorriso e lágrimas. Fez questão de posar conosco com a camiseta da foto da filha Larissa.

Contei para ela a história de Krisha Gotami que conto para todas as Mães do Brasil. Esperamos e desejamos a Sidinéia muita força nesse momento de luto.

Reproduzo aqui a história de Krisha Gotami que já publiquei uma vez nesse blog, retirada do Evangelho de Buda:
“Krisha Gotami teve um filho e este morreu. Desesperada de dor ia com o menino morto de casa em casa, pedindo um remédio. Mas as pessoas diziam:

“Está doida! Esta criança está morta!"

Mas um camponês teve pena dela e sugeriu que fosse procurar o Buda.

Krisha Gotami foi ver o Iluminado e exclamou, chorando:

“Senhor meu e mestre. Meu filho estava brincando entre as flores e tropeçou numa serpente que se enroscou no seu braço. Ficou logo pálido e silencioso. Não posso aceitar que ele deixe de brincar ou que deixe o meu colo. Senhor meu mestre, dá-me um remédio que cure o meu filho.”

O Iluminado respondeu que a única coisa que podia curar a criança e também a ela, se pudesse consegui-la, era uma simples semente de mostarda preta, muito comum na Índia, mas que só poderia ser obtida de uma casa que não tivesse morrido ninguém.

Aflita, Krisha Gotami foi de casa em casa pedindo o grão de mostarda. As pessoas se compadeciam dela e lhe davam, porém, quando ela perguntava se já tinha morrido alguém naquela casa, lhe respondiam:

“Ah! Poucos são os vivos e muitos os mortos. Não despertes nossa dor.”

Agradecida, ela lhes devolvia a mostarda e continuava a busca, sem encontrar nenhuma casa onde não tivesse morrido alguém.

Krisha Gotami voltou chorosa para o Iluminado dizendo-lhe:

“Ah! Senhor, não pude encontrar mostarda em casa onde não tivesse havido morte. Então, entre as flores silvestres, na margem do rio, deixei meu filho que não queria mamar nem sorrir, e volto para ver teu rosto e beijar teus pés suplicando-te que me digas onde encontrar essa semente, sem deparar ao mesmo tempo com a morte, pois, apesar de tudo não posso crer na morte de meu filho, como todos me disseram e temo tenha acontecido.”


O mestre respondeu-lhe:

“Procurando o que não podes encontrar, achaste o amargo bálsamo que eu queria dar-te. Sobre teu seio, o ser que amas dormiu hoje o sono da morte. Agora já sabes que todo mundo chora uma dor semelhante à tua. O sofrimento que aflige todos os corações pesa menos do que se concentrado num só. Escuta! Derramaria eu meu sangue se, ao derramá-lo pudesse deter tuas lágrimas e descobrir o segredo de o amor causar angústia e através de prados floridos conduzir-vos ao sacrifício, qual mudos animais conduzidos por seus donos. Nenhum nascido pode evitar a morte. Assim como os frutos maduros caem da árvore, assim os mortais estão expostos à morte desde que nascem. A vida corporal do homem acaba partindo-se como a vasilha de barro do oleiro. Jovens e adultos, néscios e sábios, todos estão sujeitos à morte. Porém, o sábio que conhece a Lei não se perturba, porque nem pelo pranto nem pelo desânimo obtém a paz, mas pelo contrário, avivam as dores e os sofrimentos do corpo. A morte não faz caso de lamentações. Morre o homem, e seu destino está determinado por suas ações. Embora viva dez ou cem anos, acaba o homem por separar-se de seus parentes ao sair deste mundo. Quem deseja a paz da alma, deve arrancar de sua ferida a flecha do desgosto, da queixa, da lamentação. Feliz será aquele que consegue vencer a dor. Sepulta tu mesma o teu filho.”

Extenuada pela dor, Krisha Gotami sentou-se à beira do caminho, pôs-se a meditar no silêncio do entardecer e disse consigo: "Quão egoísta sou eu em minha dor! A morte é o destino comum de tudo quanto vive. Porém, neste vale desolado há um caminho que conduz à imortalidade - aquele que elimina de si todo egoísmo.

E sufocando o amor egoísta que sofria por seu filho, enterrou-o no bosque. E foi logo refugiar-se no Iluminado, e encontrou consolo que alivia o coração dilacerado pela dor.”





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