15 fevereiro 2007

"O amor não morre!" - mensagem das Mães do Brasil à família de João Hélio


A dor da violência cometida contra um filho é um sentimento indescritível. É como se a família fosse jogada contra um muro e toda a sua estrutura se destroçasse. O que fazer para continuar sobrevivendo? Se arrastar pela vida ou se tornar um ser humano melhor? As integrantes das Mães do Brasil, que têm seus filhos desaparecidos, abraçaram a segunda alternativa e mesmo com sua dor, dão prosseguimento à vida de cabeça erguida, dignidade, fé e determinação.

Abaladas com o crime que chocou o Brasil, a morte de João Hélio Fernandes, de seis anos, que foi arrastado pelas ruas do Rio de Janeiro por bandidos preso ao cinto de segurança do carro roubado de sua família na quarta-feira, 7, nossas mães se solidarizam com a família do menino e deixam aqui sua palavra de apoio para a mãe dele Rosa Cristina, o pai Hélcio e a irmã de 14 anos, Aline.

TERCILIA FREDERICO, 60 anos, mãe de Josemar

“Aconselho a mãe do João a não desistir da vida. Que ela tenha muita fé em Deus e que siga em frente. Há 15 anos, quando meu filho desapareceu, não queria aceitar isso de jeito nenhum. Fiquei desorientada. Mas encontrei força para seguir. Me uni a outras mães, lutei para criar o movimento Mães do Brasil e com elas descobri que não era só eu que tinha uma dor. Que tinha gente sofrendo como eu. Minha vontade é ir com todas as Mães do Brasil até a mãe do Joãzinho e dizer a ela que a ferida não cicatriza, mas que Deus dá forças para superarmos a dor. Vamos convidá-la para ir a uma das reuniões do nosso movimento para que possa sentir de perto o nosso carinho”.

AMPARO GOMES DA SILVA, 34 anos, mãe de Jones

“Apesar do nosso sofrimento, temos sempre alguém que se solidariza conosco. E temos a Deus! Mesmo com toda a brutalidade que Joãozinho morreu, ele está livre da violência deste mundo”.

ELISABETE LIMA BARROS, 36 anos, mãe de Thaís

“Estamos unidas nesta dor. É como se fosse meu filho. O que nos une a família dele é o mesmo sofrimento. Só peço a Deus que conforte seus corações. Parece que foi ontem que minha filha Thaís foi seqüestrada. Quando cheguei no local onde ela desapareceu, tive a impressão que o chão desmoronou, que a vida acabou para mim. Mas segui em frente, me uni as Mães do Brasil. Os pais dele têm o nosso apoio. Ainda existem pessoas humanas no mundo. Tem muita gente dando as mãos para eles assim como dão as mãos para nós”.

DIANA SOARES DA CONCEIÇÃO, 31 anos, mãe de Dyanna

“Meu coração diz para Rosa, a mãe do João, para ter fé e acreditar que vai existir justiça nesse país. A minha dor não se compara à dor que ela passou quando o filho foi morto daquele jeito. Não sei se é pior ter um filho seqüestrado ou vê-lo morto da forma com ele foi pelos bandidos. O mundo inteiro sofre com a dor dela”.

LÚCIA HELENA, 39 anos, mãe de Ailton

“Que Deus dê força para a mãe de João nessa luta. É uma dor que não acaba. Tem que ter fé e rezar para os que ficaram. Nossa mão amiga está estendida para ela e sua família”.

Por Luciana Tecidio
luciana.tecidio@portalkids.org.br

Cristiane Nascimento participou de missa e passeata

Cristiane Nascimento, mãe de Amanda, seqüestrada e morta aos nove anos no ano de 2002 no Rio de Janeiro, foi à missa em homenagem a João Hélio na igreja da Candelária no dia 14 de fevereiro e participou da passeata por Justiça representando as Mães do Brasil. Como conhece a dor de ter um filho assassinado, Cristiane fez questão de dirigir palavras de conforto a família do menino em nome das integrantes do movimento.

“Elas não puderam se ausentar do trabalho. Eu, que tenho um horário mais flexível, fui levar o nosso carinho e pedir Justiça por nossos filhos. Também foi citado o nome de Amanda, o que me deixou feliz. Mas mesmo se isso não tivesse acontecido, não teria problema porque nossa dor é uma só. Acabamos desenvolvendo pelas outras crianças que são vítimas de violência o mesmo amor que temos pelos nossos filhos. Disse a Rosa para prosseguir. Até pouco tempo achava que não conseguiria sobreviver à dor da perda da minha filha, mas aprendi, junto com as Mães do Brasil, que o amor não morre. Continuamos ligadas a nossos filhos pelo coração.”

Um comentário:

Ellem Campos disse...

Queridas!!!Gostaria de ofertar minha enorme satisfação por saber que,mulheres como vcs, tem tanta garra e força depois da incomparavel dor que é a da perda de um filho!!O Brasil chorou com mais esta perda que foi a do lindo João Hélio.Tenho certeza que a vontade de viver com as lindas lembranças que tem de seus filhos fortalecerá cada vez mais sua vontade de ajudar quem precisa em um momento de tanta dor e desespero!!Parabéns!!!Boa sorte em sua caminhada!
Grandes abraços.
Chele C.