25 fevereiro 2011

O filho que ficou


Quando um filho desaparece, não há saída para a mãe. É preciso abrir mão de tudo pela busca. Muitas vezes do marido, da profissão, de si mesma. E o que para a mãe é o mais doloroso: abrir mão da companhia do filho que ficou. Ele está no mesmo teto, já o filho desaparecido...

Ouvi de uma mãe uma frase impactante e cruel em sua verdade. Mãe cuja vida – do momento em que a filha lhe foi tirada até sua morte (morreu sem reencontrar a filha) – pode ser resumida numa palavra: busca.

“Criei minha filha caçula como um saco de batatas que você joga na terra e espera ver o que vai dar” – disse-me ela cheia de dor, emoção e culpa. “Não tive o direito de acompanhar seu crescimento porque eu era a única chance que a irmã dela tinha de voltar para casa!”

Atire a primeira pedra quem faria diferente? Quem não sacrifica o forte pelo mais frágil na esperança de ver ambos em pé de igualdade no futuro. E sacrifica-se porque não há saída, não há como fazer diferente, não há como se ter equilíbrio no desespero da dor da perda. Primeiro é preciso matar a fome, para depois dar o entendimento.

Só que para o filho que ficou também não há saída. Além da dor da perda do irmão, ele também tem que chorar a perda de uma mãe que não tem tempo de ser feliz com ele, porque sua vida se transformou em busca. Para o filho que ficou resta o vazio. Preencher esse vazio com o amor que nunca deixou de existir é o grande desafio do projeto Gente do Amanhã, que está sendo desenvolvido por nossa instituição com o apoio da DKA-Áustria. O filho que ficou é a nossa redenção. É a certeza do amanhã.

Por Wal Ferrão
wal.ferrao@portalkids.org.br

Um comentário:

Célia Buarque disse...

Não há vida para uma mãe que perde o filho...eu tenho três e um (o mais velho) foi sequestrado por 4 dias eu não comi, não dormi, tomei banho, tudo que não era relacionado a busca eu fazia obrigada porque não queria perder um só segundo fazendo outra coisa que não fosse na rua a sua procura. Os dois mais novos ficaram entregues a dois anjos da guarda: minha cunhada e seu esposo. Graças a Deus que a busca demorou só "intermináveis quatro dias" e eu pude retomar, pelo menos tenho tentado, a vida normal. A dor e o prejuízo que essas ações violentas proporcionam não se restringem ao durante, permanece por toda a vida. Nunca seremos as mesmas, sempre o fantasma desse pesadelo, cuja dor é igual a uma faca cravada em nosso coração girando junto com o relógio, irá nos assombrar. Quem não sabe o que é essa dor pode até julgar errado essa mãe, mas quem passa sabe o desespero que a impotência de não saber onde seu filho se encontra e como estará passando provoca, enquanto os outros estão no aconchego do lar. É pior do que ter um filho doente. O que me manteve viva foi a Fé em Deus. Inabalável como sempre terei.