Ontem entreguei o edital de um projeto que, se aprovado, pode ser significativo para muita gente que, como eu, está em busca de algo que dê mais acalanto e mais sentido à vida. Ontem, ao sair do correio, lembrei que venho há dois meses preparando esse projeto com dedicação e paciência. Antes, ao imprimi-lo, a tinta acabou. Por mais bizarro que possa parecer ninguém conseguiu abrir o recipiente para trocar o cartucho de tinta da impressora. Acabei arrumando uma solução criativa porque a hora do final do expediente dos correios se aproximava. Imprimi em tinta colorida, tirei cópia na papelaria e fui postá-lo. Sai da agência com um sentimento de cansaço emocional extremo pelo dia aflitivo e corrido, e lembrei-me do capítulo de um livro que estou lendo e estou há dias estacionada.
O livro é “Comentários
sobre o viver”, de Jiddu Krishnamurti. Muitos são os adjetivos que o autor ganhou
ao longo da vida, mas acredito que um que se aproxima de uma definição de sua
pessoa é o de livre pensador.
No capítulo do livro ao qual me refiro ele fala sobre como
nossa vida gravita em torno da lembrança do passado e da expectativa do futuro.
Diz o autor: “É possível para a mente existir sem um padrão, ser livre dessa
oscilação para frente e para trás do desejo?... Essa ação implica viver no
agora... Mas nós não estamos vivendo... estamos sempre em busca do passado ou
do futuro. O passado e o futuro não sustentam a vida, eles têm a recordação e a
esperança da vida, mas não são a vida.”
Sei que meu sentimento em relação ao edital do projeto deveria ser: Fiz o que pude, da melhor forma que pude. E seguir a vida sem expectativas de resultado. Mas é tão difícil conter o querer.
É possível viver plenamente o momento esquecendo o que
passou e não projetando que a vida seja conforme nosso desejo? É possível viver
a vida com essa total entrega, desapegado do ontem e despreocupado com o
amanhã? Foram tão raros os momentos em que tive essa entrega. Mas foram justamente esses momentos que se tornaram inesquecíveis e que deram sentido à vida.
O processo, como sempre, também me fez lembrar das crianças
desaparecidas que busco. Elas sempre estão em meu pensamento. Não consigo
deixá-las no lugar onde devem estar. Também não consigo ansiar por não
encontrá-las. Conviver com a lembrança de um desaparecido é isso. Não se
consegue seguir sem ele e nem imaginar um futuro sem ele. O desaparecido está
sempre presente. Talvez por isso esse projeto seja tão importante.
Por Wal Ferrão
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