17 julho 2020

Trabalho de grupo

Nosso trabalho na Mães do Brasil sempre foi de grupo. Gostamos de estar e atuar juntos. Com o início da pandemia, e a necessidade de isolamento social, ao invés de nos entregarmos ao desespero, resolvemos nós, os dirigentes da instituição, nos reunir virtualmente todos os dias para avaliarmos nossos 21 anos de atuação - completados justamente no início do isolamento no Rio de Janeiro, 16 de março – usando o hoje, para preparar o amanhã.

Em nossos encontros diários estamos resgatando a força do nosso trabalho de grupo. Com o tempo e o crescimento da ONG, cada um de nós, dirigentes, ficou com seu grupo:  Eu, com as mães e mulheres; Nicolas com os jovens e Gilberto com o atendimento psicológico de ambos. Sempre fazemos reuniões de equipe, nós, os dirigentes, de acompanhamento das ações e projetos, e o trabalho de grupo entre nós foi ficando meio sufocado pelo acumulo de tarefas.

Pude perceber que há muito tempo nós três não ficávamos tão unidos quanto nesse período de distanciamento social. Foi me dando saudade dos encontros com parceiros e público atendido. Nicolas começou a se reunir com os jovens nas plataformas on-line e eu e Gilberto decidimos fazer ontem uma reunião de grupo com as mães dos desaparecidos. A maioria se enrolou para entrar, mas quem conseguiu, saiu revitalizado, tenho certeza, pude perceber nas expressões de prazer através da tela.

Em dado momento Vânia, que é uma trabalhadora de serviços essenciais, e não pode cumprir o isolamento social, disse que no início teve muito medo de sair para trabalhar, mas se apegou na coragem e foi. Essa frase dela até esse momento que escrevo essas palavras dançam em minha mente. Quanto de coragem uma mãe de desaparecido precisa ter para continuar em meio a sentimentos que hoje todo mundo está experimentando com a pandemia: medo, insegurança, dor, doença, perda de entes queridos, isolamento social, agressões, julgamento, desconfiança, desrespeito, decepção com as pessoas e as políticas públicas, incerteza quanto ao que reserva o futuro. Todos esses sentimentos são experimentados e vividos diariamente por quem tem um filho desaparecido, às vezes por todo o resto de sua vida, se ele não é encontrado.

Essa coragem para levantar e fazer o melhor por si e por outras pessoas, mesmo se sentindo derrotado, é o que me faz admirar e querer estar junto com as Mães do Brasil. Por isso, não é exagero sugerir, nesses tempos sombrios #lutecomoumamaedobrasil

Não deixe de estar junto, mesmo que separados. O grupo tem  muita força!


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